Entrevista:

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

                              II Maratona de contos SESC Itajaí 2010
          
                              II Maratona de contos SESC Itajaí 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

 A Mulher-esqueleto
"Ela havia feito alguma coisa que seu pai não aprovava, embora ninguém mais se lembrasse do que havia sido. Seu pai, no entanto, a havia arrastado até os penhascos, atirando-a ao mar. Lá, os peixes devoraram sua carne e arrancaram seus olhos. Enquanto jazia no fundo do mar, seu esqueleto rolou muitas vezes com as correntes.

Um dia um pescador veio pescar. Bem, na verdade, em outros tempos muitos costumavam vir a essa baía pescar. Esse pescador, porém, estava afastado da sua colônia e não sabia que os pescadores da região não trabalhavam ali sob a alegação de que a enseada era mal-assombrada.

O anzol do pescador foi descendo pela água abaixo e se prendeu - logo em que! - nos ossos das costelas da Mulher-esqueleto. O pescador pensou: “Oba, agora peguei um grande de verdade! Agora peguei um mesmo!” Na sua imaginação, ele já via quantas pessoas esse peixe enorme iria alimentar, quanto tempo sua carne duraria, quanto tempo ele se veria livre da obrigação de pescar. E enquanto ele lutava com esse enorme peso na ponta do anzol, o mar se encapelou com uma espuma agitada, e o caiaque empinava e sacudia porque aquela que estava lá em baixo lutava para se soltar. E quanto mais ela lutava, tanto mais ela se enredava na linha. Não importa o que fizesse, ela estava sendo inexoravelmente arrastada para a superfície, puxada pelos ossos das próprias costelas.

O pescador havia se voltado para recolher a rede e, por isso, não viu a cabeça calva surgir acima das ondas; não viu os pequenos corais que brilhavam nas órbitas do crânio; não viu os crustáceos nos velhos dentes de marfim. Quando ele se voltou com a rede nas mãos, o esqueleto inteiro, no estado em que estava, já havia chegado a superfície e caia suspenso da extremidade do caiaque pelos dentes incisivos. - Agh! - gritou o homem, e seu coração afundou até os joelhos, seus olhos se esconderam apavorados no fundo da cabeça e suas orelhas arderam num vermelho forte.

- Agh! - berrou ele, soltando-a da proa com o remo e começando a remar loucamente na direção
da terra. Sem perceber que ela estava emaranhada na sua linha, ele ficou ainda mais assustado pois ela parecia estar em pé, a persegui-lo o tempo todo até a praia.Não importava de que jeito ele desviasse o caiaque, ela continuava ali atrás.Sua respiração formava nuvens de vapor sobre a água, e seus braços se agitavam como se quisessem agarrá-lo para levá-lo para as profundezas.


- Aaagggggghhhh! - uivava ele, quando o caiaque encalhou na praia. De um salto ele estava fora da embarcação e saia correndo agarrado a vara de pescar.E o cadáver branco da Mulher-esqueleto, ainda preso a linha de pescar, vinha aos solavancos bem atrás dele. Ele correu pelas pedras, e ela o acompanhou.Ele atravessou a tundra gelada, e ela não se distanciou. Ele passou por cima da carne que havia deixado a secar, rachando-a em pedaços com as passadas dos seus mukluks.

O tempo todo ela continuou atrás dele, na verdade até pegou um pedaço do peixe congelado enquanto era arrastada. E logo começou a comer, porque há muito, muito tempo não se saciava. Finalmente, o homem chegou ao seu iglu, enfiou se direto no túnel e, de quatro, engatinhou de qualquer jeito para dentro. Ofegante e soluçante, ele ficou ali deitado no escuro, com o coração parecendo um tambor, um tambor enorme. Afinal, estava seguro, ah, tão seguro, é, seguro, graças aos deuses, Raven, é, graças a Raven, é, e também a todo-generosa Sedna, em segurança, afinal.

Imaginem quando ele acendeu sua lamparina de óleo de baleia, ali estava ela - aquilo - jogada num monte no chão de neve, com um calcanhar sobre um ombro,um joelho preso nas costelas, um pé por cima do cotovelo. Mais tarde ele não saberia dizer o que realmente aconteceu. Talvez a luz tivesse suavizado suas feições; talvez fosse o fato de ele ser um homem solitário. Mas sua respiração ganhou um que de delicadeza, bem devagar ele estendeu as mãos encardidas e, falando baixinho como a mãe fala com o filho, começou a soltá-la da linha de pescar.


- Oh, na, na, na. - Ele primeiro soltou os dedos dos pés, depois os tornozelos.- Oh, na, na, na. - Trabalhou sem parar noite adentro, até cobri-la de peles para aquecê-la, já que os ossos da Mulher-esqueleto eram iguaizinhos aos de um ser humano.


Ele procurou sua pederneira na bainha de couro e usou um pouco do próprio cabelo para acender mais um foguinho. Ficou olhando para ela de vez em quando enquanto passava óleo na preciosa madeira da sua vara de pescar e enrolava novamente sua linha de seda. E ela, no meio das peles, não pronunciava palavra - não tinha coragem - para que o caçador não a levasse lá para fora e a jogasse lá em baixo nas pedras, quebrando totalmente seus ossos.

O homem começou a sentir sono, enfiou-se nas peles de dormir e logo estava sonhando.Às vezes, quando os seres humanos dormem, acontece de uma lágrima escapar do olho de quem sonha. Nunca sabemos que tipo de sonho provoca isso, mas sabemos que ou é um sonho de tristeza ou de anseio. E foi isso o que aconteceu com o homem.

A Mulher-esqueleto viu o brilho da lágrima a luz do fogo, e de repente ela sentiu uma sede daquelas. Ela se aproximou do homem que dormia, rangendo e retinindo,e pôs a boca junto a lágrima. Aquela única lágrima foi como um rio, que ela bebeu,bebeu e bebeu até saciar sua sede de tantos anos.Enquanto estava deitada ao seu lado, ela estendeu a mão para dentro do homem que dormia e retirou seu coração, aquele tambor forte. Sentou-se e começou a batucar dos dois lados do coração: Bom, Bomm!... Bom, Bomm!

Enquanto marcava o ritmo, ela começou a cantar em voz alta.

- Carne, carne, carne! Carne, carne, carne!- E quanto mais cantava, mais seu corpo se revestia de carne. Ela cantou para ter cabelo, olhos saudáveis e mãos boas e gordas. Ela cantou para ter a divisão entre as pernas e seios compridos o suficiente para se enrolarem e dar calor, e todas as coisas de que as mulheres precisam.

Quando estava pronta, ela também cantou para despir o homem que dormia e se enfiou na cama com ele, a pele de um tocando a do outro. Ela devolveu o grande tambor, o coração, ao corpo dele, e foi assim que acordaram, abraçados um ao outro,enredados da noite juntos, agora de outro jeito, de um jeito bom e duradouro.

As pessoas que não conseguem se lembrar de como aconteceu sua primeira desgraça dizem que ela e o pescador foram embora e sempre foram bem alimentados pelas criaturas que ela conheceu na sua vida debaixo d'água.As pessoas garantem que é verdade e que é só isso o que sabem."
*Conto extraído do livro, Mulheres que correm com Lobos de Clarissa Pinkola Estés.

Uma palinha de como esta ficando meu primeiro livro... aguardem!!

Projeto em parceria com Miriam Ramoniga

Semana Nacional da Biblioteca

Passando e contando...

02/10 - Narrativas - Navegantes(SC) - Evento RBS TV

03/10 - Cantos e Contos Indianos. Itapema Plaza Resort -Itapema(SC)

09 a 12/10 - Kinderfest. Evento RBS TV - Pomerode(SC)

16 e 17/10 - Histórias de Pescador - Marejada - Itajaí(SC)

19 e 20/10 - Espetáculo "Era uma vez..." - Baln. Camboriú - Col. Unificado

22/10 - II Maratona de Contos de Itajaí - SESC

27/10 - Espetáculo "Contos de terror" - Baln.Camboriú - Col. Unificado

28/10 - Espetáculo "Era uma vez..." Bib. Pública Machado de Assis - Bal. Camboriú

02/11 - Narrativas - Escola de Campo Unificado - Baln. Camboriú

05 a 08/11 - Feira Literária de Passo Fundo (RS)

16 a 19/11 - Contos Africanos - Semana da consciência negra - SESC Itajaí (Aproximadamente 1.500 crianças da rede pública e municipal ouviram histórias)

26/11 - Narrativas - Acantonamento do Colégio Unificado - Bal. Camboriú

30/11 - Oficina: Técnicas para se contar histórias - Curso de Pós-graduação em contação de histórias - Aupex Joinville (SC)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Kinderfest - Pomerode

Começou no sábado(09) a Kinderfest em Pomerode-SC, onde estarei até o dia 12/10 no espaço da loja Killy contando minhas histórias. Segue abaixo fotos do 1º e 2º dia. Abraços cheios de histórias.





terça-feira, 24 de agosto de 2010

Oficina Permanente de Narração de Histórias

A Oficina Permanente de Narração de Histórias é um projeto de extensão realizado desde 1998 na UFSC, com o objetivo de aprofundar e disseminar o conhecimento e a prática da narração oral de histórias como forma de comunicação e de expressão cultural. Através da Oficina, os diversos grupos da cidade envolvidos em projetos que usam a narração oral têm um espaço público, dentro da Universidade Federal, onde podem pesquisar e aprimorar suas práticas, em contato com outros estudiosos do tema. O principal espaço de troca, estudo e pesquisa da Oficina são as Rodas de Histórias, encontros regulares de educadores, artistas e animadores culturais que se reúnem para estudar textos, contar e ouvir histórias e discutir vários de seus aspectos – literários, artísticos, e culturais de modo geral. Os encontros são abertos à comunidade, realizados sempre no primeiro sábado de cada mês, na Sala 1 do DAC (Igrejinha do Divino), às 9h da manhã. Não há necessidade de inscrição prévia, nem são cobradas taxas dos participantes: o único requisito para participar é ter uma história para contar, caso a pessoa seja sorteada. A Oficina tem fortes laços com outras das iniciativas ligadas à narração de histórias surgidas no estado nos últimos anos, como os Cursos de Formação promovidos pelo SESC-SC e pelo Núcleo de Estudos da Terceira Idade (UFSC). Maiores informações no site do projeto: www.rodadehistorias.ufsc.br

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Os contadores de histórias e a multimensionalidade cósmica

Texto postado por Benita Prieto no site Conta Brasil.



Uma Teoria Quântica!

Ao participar do Simposio que aconteceu no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de conhecer um pouco deste mundo mágico e me veio à mente que o contador de histórias é um ser humano incomum, um ser humano que acessa a multidimensionalidade do universo!

O ser normal, dotado de raciocínio lógico e de um controle emocional mediano acessa, com certeza até a terceira dimensão, no máximo a quarta se trabalhar em area onde possa usar seu poder criativo. Já o ser humano que tem todos estes quesitos e ainda acessa uma realidade não material e com ela cria personagens, paisagens e situações onde joga criativa e sábiamente com as palavras para descrever e envolver outros seres humanos em sua imaginação é, com certeza um ser multidimencional.

O colorido que o contador de contos dá às suas histórias é buscado em seu coração, portão de acesso as dimenções mais elevadas, à alma, coletiva ou individual.

O envolvimento emocional e quântico do contador derrama-se em ondas de energia até quem escuta e faz o que chamamos de "link" para que a compreenção da mensagem contida na história seja completa, num nivel muito sutil, que vai modificar momentaneamente a configuração energética de quem esta escutando.

Que DOM poderoso!

O que busca quem esta ali, naquele momento? Alívio para sua dor? Solução de seus problemas? Distração para uma mente cansada? Ou apenas o prazer de viajar por mundos desconhecidos e muito mais interessantes para suprir um vazio em sua existência, pelo menos momentaneamente?

Ao acessar os niveis dimencionais mais elevados, onde tudo é possível, a vibração do ouvinte vai junto, deixando o colorido da história tome conta e transmute todos seus problemas e até sugira soluções pois a

presença dos arquétipos comportamentais está presente e se a conexão for completa, seu subconsciente faz um paralelo com sua atualidade e dá a solução ali mesmo, mesmo que o ouvinte não tenha consciência na hora. No instante em que o ouvinte "entra" na história, sua vibração já modificou, não importando a "idade" do bloqueio e a dor deixa de ser repensada para que se inicie um novo acesso a uma liberdade criativa e à construção de um novo início.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

BAÚS E CHAVES da narração de histórias

Contar histórias não é uma competência tão natural assim... - a obra vai mostrar que existem aspectos teórico-práticos a considerar quando da contação por uma pessoa. Aspectos relacionados à história em si, ao ambiente e aos interlocutores (ouvintes), sem o que o processo pode perder a sua vitalidade em termos de comunicação.

Muitos poderão se beneficiar e se enriquecer a partir dos textos deste livro, mas acredito que os professores terão muito a ganhar com a leitura, aprendendo ou esmerando as suas habilidades de contador de histórias e, por elas, de sedutor de leitores.


GIRARDELLO, Gilka (org). Báus e chaves da narração de histórias. Florianópolis: SESC/SC, 2006. 186 p.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS




Em "A Psicanálise dos Contos de Fadas", Bruno Bettelheim faz uma radiografia das mais famosas histórias para crianças, arrancando-lhes seu verdadeiro significado. O autor mostra as razões, as motivações psicológicas, os significados emocionais, a função de divertimento, a linguagem simbólica do inconsciente que estão subjacentes nos contos infantis.

Boa Leitura!!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Vai uma história?

CONTO DE ORIGEM

Esse tipo de história sempre tenta explicar como surgiu alguma coisa. Nisso, relaciona-se com os mitos, narrativas religiosas que contam como os deuses fizeram o mundo, como apareceram os homens, os animais, as plantas e tudo o que é conhecido.


A TARTARUGA E A FRUTA AMARELA
- estraida do livro "Histórias que o povo conta", de Ricardo Azevedo.

O tempo era de seca. O calor estava de rachar pedra. Sem chuva, a floresta
quase secou. A bicharada andava para lá e para cá cheia de fome e de sede.
Um dia, ninguém sabe como, apareceu uma árvore carregadinha de frutas.

As frutas eram lindas e amarelas mas os bichos ficaram com medo.
— E se for azeda? — disse o papagaio.
— E se for venenosa? — disse o macaco.
— E se for feitiço? — disse a capivara.
Com água na boca, a bicharada olhava aquelas frutas madurinhas mas
ninguém tinha coragem de experimentar.
— A gente não pode comer a fruta sem saber o nome dela — ensinou a
coruja.
Então, os bichos fizeram uma reunião e escolheram a anta.
— Vá até o céu — pediram eles —, e pergunte a Deus qual o nome dessa
fruta.
A anta foi e Deus explicou tudo direitinho. Para não esquecer o nome da
fruta amarela a anta voltou do céu cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

Acontece que no caminho morava uma bruxa malvada.
A mulher perguntou que cantoria era aquela e a anta explicou.
A bruxa deu risada e gritou:

Caranguejo, caramujo
Carapaça, carrapicho
Carrapato, carraspana
Carapeta, carabina

Ouvindo o canto da bruxa, a anta se confundiu. Ao chegar na floresta não
conseguiu mais lembrar nome nenhum.
Os bichos fizeram outra reunião e escolheram o tatu.

— Vá até o céu — pediram eles —, e pergunte a Deus qual o nome dessa
fruta.

O tatu foi e Deus explicou tudo direitinho. Para não esquecer o nome da fruta
amarela, o tatu voltou do céu cantando.

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

No caminho, encontrou a bruxa malvada.
A mulher perguntou que cantoria era aquela e o tatu explicou.
A bruxa deu risada e gritou:

Caranguejo, caramujo
Carapaça, carrapicho
Carrapato, carraspana
Carapeta, carabina

Ouvindo o canto da bruxa, o tatu se confundiu. Ao chegar na floresta não
conseguiu mais lembrar nome nenhum.
Outra vez, os bichos fizeram uma reunião e escolheram a tartaruga.

— Vá até o céu — pediram eles —, e pergunte a Deus qual o nome dessa
fruta.

A tartaruga foi e Deus explicou tudo direitinho. Para não esquecer o nome da
fruta amarela a tartaruga voltou do céu cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

No caminho, encontrou a bruxa malvada.
A mulher perguntou que cantoria era aquela. A tartaruga não disse nada e
continuou cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

Mas a bruxa deu risada e gritou:

Caranguejo, caramujo
Carapaça, carrapicho
Carrapato, carraspana
Carapeta, carabina

A tartaruga nem ligou. Continuou pelo caminho cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

Então a bruxa gritou:

Carapina, carapuça
Caravela, caravana
Cara-suja, caradura
Carafuzo, carapinha

A tartaruga gritou mais alto:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

A bruxa berrou:

Carapeba, carangola
Carandonga, caripora
Caraúba, caraíba
Carantonha, curupira

A tartaruga nem ligou. Continuou cantando sua música sem errar:

Carambola, carambola
Não posso esquecer o nome

Foi quando a bruxa perdeu a cabeça, agarrou a tartaruga, bateu e jogou no
chão.E a tartaruga:

Carambola, carambola
Que meu povo anda com fome

A bruxa atirou um monte de pedra em cima da tartaruga.
E a bichinha:

Carambola, carambola
Não posso esquecer o nome

No fim, a bruxa bateu na tartaruga com um pedaço de pau.
Depois, com um pedaço de ferro. Depois, atirou a coitada do alto do despenhadeiro. A tartaruga caiu lá embaixo no meio das pedras, levantou-se, sacudiu a poeira e continuou cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer o nome
Carambola, carambola
Que meu povo anda com fome

Vendo isso, a bruxa desistiu de tudo e foi embora para sempre.
A tartaruga chegou na floresta cansada. Contou o nome da fruta amarela. A bicharada agradeceu, fez uma festa e matou a fome e a sede de tanto comer a fruta amarela.
Desde então o povo da floresta passou a conhecer a carambola.
Desde então, por causa de tantos tombos, pancadas e quedas, a tartaruga
ficou com o casco enrugado e achatado na parte de baixo.


Acabou se o que era doce,
Toda história tem um fim.
Quem quiser que conte outra
Que seja tão maravilhosa assim.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

ARTISTA AFRICANO IMPEDIDO DE ENTRAR NO BRASIL

Matéria extraída do blog "Educadores Contadores de Histórias"

Artista africano é impedido de entrar no Basil. Eis a mensagem que recebi da idealizadora do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias Benita Prieto:

Boniface Ofogo Nkama (http://www.boniofogo.com/ ) nascido na República dos Camarões e radicado na Espanha desde 1988, nosso convidado para o Simpósio Internaciona...l de Contadores de Histórias (www.simposiodecontadores.com.br) que acontecerá na próxima semana, no Rio de Janeiro e em Ouro Preto, foi impedido de entrar no Brasil, no aeroporto de Confins/BH, pela Polícia Federal que alegou falta de visto, no dia 23/07/2010(sexta-feira),vindo de Madri em voo da TAP.
Ele havia estado com a Vice-Cônsul do Brasil em Madri, no dia 20/07, com toda a documentação e foi informado que há pouco tempo foi celebrado um acordo que dispensava o visto dos cidadãos camaroneses. Confirmando o e-mail que eu havia recebido do setor de vistos do Consulado do Brasil em Madri dizendo não haver necessidade, pois a carta convite de intercambio cultural era suficiente para sua estada no país, como turista, durante três meses.
Boniface embarcou sem problemas, mas ao chegar ao aeroporto de Confins/MG a Policia Federal não permitiu sua entrada. Embora ele tenha relatado toda a situação, mostrado os documentos, cartas, e-mails, seus livros, o programa do Simpósio de Contadores. UMA SITUAÇÃO HUMILHANTE E CONSTRANGEDORA.
Boniface me telefonou às 17 horas dizendo que às 19 horas seria DEVOLVIDO a Madri. Imediatamente liguei para a Polícia Federal do aeroporto de Confins perguntando o que poderíamos fazer. E eles me disseram que nada.
Recorremos ao serviço de imigração e o Ministério das Relações Exteriores enviou uma permissão para a entrada no país.
A Polícia Federal alega que a permissão chegou as 19h31 e o voo já havia partido as 19 horas. E novamente me disse que não se podia fazer mais nada.
ESSA ATITUDE É INACEITÁVEL. Boniface é um artista reconhecido internacionalmente e que já esteve em 18 países sem nenhum problema, inclusive no Brasil, em dois simpósios anteriores, e foi um dos protagonistas do documentário Histórias que gravamos aqui em 2005.

Estou envergonhada e preciso tomar uma atitude, pois tenho certeza que houve PRECONCEITO COM UM AFRICANO, POR SER NEGRO E ARTISTA.

Boniface é um artista excepcional, um contador de histórias, um intelectual, um mediador intercultural, um escritor. Vinha para o Brasil para estrear no Simpósio o documentário En Memória uma homenagem a seu pai, recentemente falecido.Ele é da etnia yambasa onde seu pai era rei e o detentor da palavra, um mestre da cultura popular.E Boniface por tradição agora representa na sua etnia o que foi seu pai.

Nossa primeira ação foi entregar para um advogado todos os documentos pedindo que Boniface seja trazido ao Brasil para o evento com todo o respeito e dignidade que merece. E com um pedido de desculpas do governo brasileiro.
A situação é lamentável nesse momento em que o Presidente Lula acaba de voltar da Africa para acordos de cooperação com esse continente que é o berço da humanidade.
E imaginem o que pode acontecer na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016 se as informações dos consulados do Brasil no exterior divergem das que existem no nosso país.

Peço a todos que nos apoiem enviando este email para sua rede de amigos e para todas as instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais, que conheçam. E repliquem esse e-mail nos seus blogs e nas redes sociais.

Benita Prieto
Idealizadora e Produtora do Simpósio

domingo, 25 de julho de 2010

Tradição oral - Amadou Hampâté Bá



“Cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima”
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Com esta frase, Amadou Hampâté Bá dá a dimensão da importância da transmissão oral. Ele foi um dos maiores pensadores da África do século XX, tendo recolhido inúmeras histórias e procurado incentivar e divulgar este conhecimento.
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Amadou (1900-1991) nasceu no atual Mali em uma família aristocrática do povo fula. Escritor, etnólogo, filósofo, historiador, poeta e contador, foi da primeira geração local que recebeu educação ocidental francesa. Procurou o reconhecimento da oralidade como fonte legítima de conhecimento histórico. Para isso, recolheu, transcreveu e explicou os tesouros da literatura oral do Oeste da África para o restante do mundo.

sábado, 17 de julho de 2010

Agenda:







Roda de histórias dia 23 de julho na Fundação Cultural de Balneário Camboriú, à partir das 13h. Até lá!

Vamos de história??





"O Comprador de Sonhos"



Era uma vez no México um índio, camponês sem terra, pastor sem ovelhas... o que fazia dele um peão.
Um peão é pobre no começo e mais pobre no final, quando a força para trabalhar o abandona...
As pessoas de sua aldeia tinham terras...mas de que serve uma terra onde nada cresce?
E para não morrer de fome, o índio, desceu a “sierra mexicana” em busca de trabalho como peão numa plantação de cacau.



Durante três anos ele cuidou das árvores e colheu seus frutos... mas não era feliz... tinha saudades de sua “sierra.”
Para enfrentar seu destino sonhava com o dia em que finalmente voltaria levando consigo uma mala enorme cheia de presentes...e todos gritariam: “ele voltou...ele voltou...” E todos estariam muito felizes. Ele tinha tanta vontade de ser feliz!
Ao final de três longos anos, ele decidiu que era hora de voltar. Recebeu seu salário. Não compreendia muito bem as contas que o capataz fazia... “_Por três anos de trabalho receberá... aluguel e comida a descontar...perda de uma machadinha a descontar... por sua negligencia, dez árvores produziram menos...a descontar...eis, então, seu ganho: três moedas de cobre. O próximo!”

O índio se afastou lentamente... em sua mão apenas três moedinhas de cobre. Era tudo!
À noitinha chegou à pequena cidade mais próxima. Era alegre, movimentada...as pessoas pareciam felizes. As lojas cheias de coisas maravilhosas...mas caras.

Porém, ao passar por uma vitrine de uma loja de doces, ficou deslumbrado. Havia flores, de todas as cores, de açúcar impressionantemente lindas.
Uma moeda de cobre...que custava cada uma. Comprou uma charmosa rosa vermelha para presentear Panchita a índia mais linda da aldeia. Agora, com apenas duas moedas comeria pouco, e pronto!
Pouco a pouco a cidade foi adormecendo...estava cansado e sentia muita fome, mas preferiu deixar para comer no dia seguinte antes de se colocar a caminho de casa.
Foi até a uma fonte pública e bebeu muita água para distrair o estômago... já satisfeito percebeu um homem quase sem forças com uma tigela na mão tentando pegar água. Parecia muito doente. Então, o índio pega a tigela e ajuda o homem a beber a água, como se fosse uma criança...O homem estava tão fraco que era incapaz de segurar a própria tigela e o índio sabia bem do que é que ele sofria...
O índio, então correu até um vendedor de tortilhas e pediu uma porção bem farta e pagou com uma moeda de broze... ofereceu a tortilha ao homem que comeu lentamente apreciando cada mordida.
O homem, então agradeceu e ofereceu um presente, um pequeno saco:__É para você...A felicidade, talvez...mas eu não sei.Eram sementes redondas e amarelas, da cor do ouro. O índio aceitou e foi embora a procura de um lugar para dormir.Já amanhecerá na porta de um albergue. De dentro vinha um delicioso cheiro de tortilhas. O índio entrou e pediu uma para matar sua fome antes de seguir viagem...
Enquanto esperava, um homem descia pelas escadas e disse:
__Chica, traga-me rápido a comida e eu lhe contarei um belo sonho...
__Sonhei que uma deusa de cabelos longos e negros com a noite...era minha esposa. Nós morávamos bem no meio de uma floresta de ouro... aquele que colhesse um galho de ouro na floresta estaria livre da fome. Neste lugar todos eram felizes e vinham à nossa floresta e colhiam braçadas de galhos de ouro e partilhavam uns com os outros toda essa riqueza e felicidade. E eu olhava toda aquela gente e me sentia ainda mais feliz... Não é belo o meu sonho?
O índio ficou impressionado e pensou: “este homem parece ter sorte e tem tudo o que quer, não precisa de um sonho para ser feliz. Se eu gastar minha última moeda com comida, amanhã ainda terei fome. Mas, se eu comprar esse sonho, serei feliz amanhã, e depois, e depois...”
Então, aproximou-se do homem e disse:

__Quero comprar o seu sonho.O homem ficou assustado e começou a rir.

__O que? Você quer comprar o meu sonho? Mas para que ele poderá lhe servir?

__Ele me servirá para me fazer feliz. Aqui está o dinheiro.O índio colocou sua última moeda sobre a mesa; o homem não podia acreditar.

__Uma moeda? É pouco, mas ainda é muito para pagar um sonho. Guarde seu dinheiro eu lhe dou o sonho.

__Não estou mendigando, Quero comprar o seu sonho.

Vendo que o índio falava com seriedade e convicção, vendeu-lhe o sonho por uma moeda de cobre.

O índio saiu do albergue feliz por ter comprado um bonito sonho e já pegava o caminho quando Chica veio correndo ao seu encontro.

__Você vai para “Sierra”? Eu queria que passasse por Achulco, a aldeia onde mora minha mãe.

__E o que você quer que eu diga a ela?

__Conte a ela seu sonho. Minha mãe é sozinha e triste. Ela ficará feliz com seu bonito sonho.

__Mas, eu não sei contar história...

__Mas é o seu sonho! Quem poderia conta-lo melhor?Ela então, entregou-lhe uma sacola com tortilhas, pão, tomates e pimenta.

__Tome! Este é meu presente para sua viagem.Ele não pode negar o pedido e logo, à tarde chegou ao vilarejo e procurou pela mulher. Curiosos lhe seguiram até a porta da mãe de Chica, queriam saber das novidades. Logo a sala da casa estava cheia, e a mãe de Chica pediu silêncio.

__ Este rapaz teve um sonho magnífico e minha filha o mandou aqui para que me contasse. Cada palavra pronunciada é a palavra da verdade. Chica é testemunha.

Então, ele contou seu sonho e era realmente lindo e encantou a todos do vilarejo.Pela manhã, estava de partida quando um homem veio procura-lo.

__Minha mulher e filhos moram num vilarejo que fica a um dia de caminhada daqui. Se você for passar por lá, poderia contar-lhes seu sonho?

O índio consentiu e o homem decidiu segui-lo par ouvir mais uma vez o seu sonho. E a notícia corria de boca em boca... e por varias vezes se desviou de sua rota par contar seu sonho por encomenda de alguém. Mas fazer o que? Só um louco se recusaria a dar alegria aos outros.
Até que um dia, finalmente chegou em seu vilarejo. Logo na entrada, viu um bela jovem de cabelos longos e negros com a noite, era Panchita. Seu coração palpitou forte e disse:

__Panchita, trouxe-lhe um presente. E lhe entregou a delicada rosa de açúcar vermelha.

Todos estavam felizes com sua volta. E à noite, em torno da fogueira, ele contou seu sonho a todos e mostrou as sementes de ouro que havia ganhado e uma senhora idosa aproximou-se e examinou-as e disse:

__É um grão d’ixium, o milho. Mas esta felicidade não é para nós...jamais brotará em nossas terras áridas.

__Mas vamos plantá-las... junto com meu sonho.

E numa bela manhã de outono, o índio correu até os campos e pode ver seu lindo sonho...lá havia uma bela floresta: o milho amadurecera e, de tão bonito, de tão maduro, parecia de ouro. E no meio daquela floresta dourada, Panchita dançava com os cabelos soltos ao vento, cabelos longos e negros como a noite...e, de tão bela, parecia uma deusa!

terça-feira, 13 de julho de 2010

História para minha filha Tiê!!





Era uma vez , uma índia chamada Tiê ,
Que era perfumada como a flor do ipê !
Ela era uma índia sonhadora e faceira ...
Mas , também era uma guerreira !

Porém , ela não gostava de fazer nenhum tipo de guerra ...
Tiê só gostava de admirar a natureza da primavera !
Seu sonho era ser um pássaro na linda paisagem ...
Para ter a liberdade de voar em qualquer miragem !

Mas , um dia Tiê teve que participar ...
De uma batalha de amargar !
Mas , ela foi ferida ...
Pela tribo inimiga ,

Que espalhou o seu sangue pela terra ...
Naquela manhã de primavera !

E quando tudo escureceu ...
Ela , levemente , faleceu !
Porém , o deus Tupã ...
Naquela triste manhã ...

Resolveu atender a fantasia ...
Da falecida índia cheia de poesia !
Assim , ele transformou o sangue da guerreira ...
Numa ave bela , graciosa e faceira !

Deste jeito ...
Todo perfeito ...
Surgiu o tiê – sangue , um pássaro sonhador ,
Que voa pelo céu do Brasil com amor .


Luciana do Rocio Mallon