Entrevista:

sexta-feira, 30 de julho de 2010

ARTISTA AFRICANO IMPEDIDO DE ENTRAR NO BRASIL

Matéria extraída do blog "Educadores Contadores de Histórias"

Artista africano é impedido de entrar no Basil. Eis a mensagem que recebi da idealizadora do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias Benita Prieto:

Boniface Ofogo Nkama (http://www.boniofogo.com/ ) nascido na República dos Camarões e radicado na Espanha desde 1988, nosso convidado para o Simpósio Internaciona...l de Contadores de Histórias (www.simposiodecontadores.com.br) que acontecerá na próxima semana, no Rio de Janeiro e em Ouro Preto, foi impedido de entrar no Brasil, no aeroporto de Confins/BH, pela Polícia Federal que alegou falta de visto, no dia 23/07/2010(sexta-feira),vindo de Madri em voo da TAP.
Ele havia estado com a Vice-Cônsul do Brasil em Madri, no dia 20/07, com toda a documentação e foi informado que há pouco tempo foi celebrado um acordo que dispensava o visto dos cidadãos camaroneses. Confirmando o e-mail que eu havia recebido do setor de vistos do Consulado do Brasil em Madri dizendo não haver necessidade, pois a carta convite de intercambio cultural era suficiente para sua estada no país, como turista, durante três meses.
Boniface embarcou sem problemas, mas ao chegar ao aeroporto de Confins/MG a Policia Federal não permitiu sua entrada. Embora ele tenha relatado toda a situação, mostrado os documentos, cartas, e-mails, seus livros, o programa do Simpósio de Contadores. UMA SITUAÇÃO HUMILHANTE E CONSTRANGEDORA.
Boniface me telefonou às 17 horas dizendo que às 19 horas seria DEVOLVIDO a Madri. Imediatamente liguei para a Polícia Federal do aeroporto de Confins perguntando o que poderíamos fazer. E eles me disseram que nada.
Recorremos ao serviço de imigração e o Ministério das Relações Exteriores enviou uma permissão para a entrada no país.
A Polícia Federal alega que a permissão chegou as 19h31 e o voo já havia partido as 19 horas. E novamente me disse que não se podia fazer mais nada.
ESSA ATITUDE É INACEITÁVEL. Boniface é um artista reconhecido internacionalmente e que já esteve em 18 países sem nenhum problema, inclusive no Brasil, em dois simpósios anteriores, e foi um dos protagonistas do documentário Histórias que gravamos aqui em 2005.

Estou envergonhada e preciso tomar uma atitude, pois tenho certeza que houve PRECONCEITO COM UM AFRICANO, POR SER NEGRO E ARTISTA.

Boniface é um artista excepcional, um contador de histórias, um intelectual, um mediador intercultural, um escritor. Vinha para o Brasil para estrear no Simpósio o documentário En Memória uma homenagem a seu pai, recentemente falecido.Ele é da etnia yambasa onde seu pai era rei e o detentor da palavra, um mestre da cultura popular.E Boniface por tradição agora representa na sua etnia o que foi seu pai.

Nossa primeira ação foi entregar para um advogado todos os documentos pedindo que Boniface seja trazido ao Brasil para o evento com todo o respeito e dignidade que merece. E com um pedido de desculpas do governo brasileiro.
A situação é lamentável nesse momento em que o Presidente Lula acaba de voltar da Africa para acordos de cooperação com esse continente que é o berço da humanidade.
E imaginem o que pode acontecer na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016 se as informações dos consulados do Brasil no exterior divergem das que existem no nosso país.

Peço a todos que nos apoiem enviando este email para sua rede de amigos e para todas as instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais, que conheçam. E repliquem esse e-mail nos seus blogs e nas redes sociais.

Benita Prieto
Idealizadora e Produtora do Simpósio

domingo, 25 de julho de 2010

Tradição oral - Amadou Hampâté Bá



“Cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima”
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Com esta frase, Amadou Hampâté Bá dá a dimensão da importância da transmissão oral. Ele foi um dos maiores pensadores da África do século XX, tendo recolhido inúmeras histórias e procurado incentivar e divulgar este conhecimento.
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Amadou (1900-1991) nasceu no atual Mali em uma família aristocrática do povo fula. Escritor, etnólogo, filósofo, historiador, poeta e contador, foi da primeira geração local que recebeu educação ocidental francesa. Procurou o reconhecimento da oralidade como fonte legítima de conhecimento histórico. Para isso, recolheu, transcreveu e explicou os tesouros da literatura oral do Oeste da África para o restante do mundo.

sábado, 17 de julho de 2010

Agenda:







Roda de histórias dia 23 de julho na Fundação Cultural de Balneário Camboriú, à partir das 13h. Até lá!

Vamos de história??





"O Comprador de Sonhos"



Era uma vez no México um índio, camponês sem terra, pastor sem ovelhas... o que fazia dele um peão.
Um peão é pobre no começo e mais pobre no final, quando a força para trabalhar o abandona...
As pessoas de sua aldeia tinham terras...mas de que serve uma terra onde nada cresce?
E para não morrer de fome, o índio, desceu a “sierra mexicana” em busca de trabalho como peão numa plantação de cacau.



Durante três anos ele cuidou das árvores e colheu seus frutos... mas não era feliz... tinha saudades de sua “sierra.”
Para enfrentar seu destino sonhava com o dia em que finalmente voltaria levando consigo uma mala enorme cheia de presentes...e todos gritariam: “ele voltou...ele voltou...” E todos estariam muito felizes. Ele tinha tanta vontade de ser feliz!
Ao final de três longos anos, ele decidiu que era hora de voltar. Recebeu seu salário. Não compreendia muito bem as contas que o capataz fazia... “_Por três anos de trabalho receberá... aluguel e comida a descontar...perda de uma machadinha a descontar... por sua negligencia, dez árvores produziram menos...a descontar...eis, então, seu ganho: três moedas de cobre. O próximo!”

O índio se afastou lentamente... em sua mão apenas três moedinhas de cobre. Era tudo!
À noitinha chegou à pequena cidade mais próxima. Era alegre, movimentada...as pessoas pareciam felizes. As lojas cheias de coisas maravilhosas...mas caras.

Porém, ao passar por uma vitrine de uma loja de doces, ficou deslumbrado. Havia flores, de todas as cores, de açúcar impressionantemente lindas.
Uma moeda de cobre...que custava cada uma. Comprou uma charmosa rosa vermelha para presentear Panchita a índia mais linda da aldeia. Agora, com apenas duas moedas comeria pouco, e pronto!
Pouco a pouco a cidade foi adormecendo...estava cansado e sentia muita fome, mas preferiu deixar para comer no dia seguinte antes de se colocar a caminho de casa.
Foi até a uma fonte pública e bebeu muita água para distrair o estômago... já satisfeito percebeu um homem quase sem forças com uma tigela na mão tentando pegar água. Parecia muito doente. Então, o índio pega a tigela e ajuda o homem a beber a água, como se fosse uma criança...O homem estava tão fraco que era incapaz de segurar a própria tigela e o índio sabia bem do que é que ele sofria...
O índio, então correu até um vendedor de tortilhas e pediu uma porção bem farta e pagou com uma moeda de broze... ofereceu a tortilha ao homem que comeu lentamente apreciando cada mordida.
O homem, então agradeceu e ofereceu um presente, um pequeno saco:__É para você...A felicidade, talvez...mas eu não sei.Eram sementes redondas e amarelas, da cor do ouro. O índio aceitou e foi embora a procura de um lugar para dormir.Já amanhecerá na porta de um albergue. De dentro vinha um delicioso cheiro de tortilhas. O índio entrou e pediu uma para matar sua fome antes de seguir viagem...
Enquanto esperava, um homem descia pelas escadas e disse:
__Chica, traga-me rápido a comida e eu lhe contarei um belo sonho...
__Sonhei que uma deusa de cabelos longos e negros com a noite...era minha esposa. Nós morávamos bem no meio de uma floresta de ouro... aquele que colhesse um galho de ouro na floresta estaria livre da fome. Neste lugar todos eram felizes e vinham à nossa floresta e colhiam braçadas de galhos de ouro e partilhavam uns com os outros toda essa riqueza e felicidade. E eu olhava toda aquela gente e me sentia ainda mais feliz... Não é belo o meu sonho?
O índio ficou impressionado e pensou: “este homem parece ter sorte e tem tudo o que quer, não precisa de um sonho para ser feliz. Se eu gastar minha última moeda com comida, amanhã ainda terei fome. Mas, se eu comprar esse sonho, serei feliz amanhã, e depois, e depois...”
Então, aproximou-se do homem e disse:

__Quero comprar o seu sonho.O homem ficou assustado e começou a rir.

__O que? Você quer comprar o meu sonho? Mas para que ele poderá lhe servir?

__Ele me servirá para me fazer feliz. Aqui está o dinheiro.O índio colocou sua última moeda sobre a mesa; o homem não podia acreditar.

__Uma moeda? É pouco, mas ainda é muito para pagar um sonho. Guarde seu dinheiro eu lhe dou o sonho.

__Não estou mendigando, Quero comprar o seu sonho.

Vendo que o índio falava com seriedade e convicção, vendeu-lhe o sonho por uma moeda de cobre.

O índio saiu do albergue feliz por ter comprado um bonito sonho e já pegava o caminho quando Chica veio correndo ao seu encontro.

__Você vai para “Sierra”? Eu queria que passasse por Achulco, a aldeia onde mora minha mãe.

__E o que você quer que eu diga a ela?

__Conte a ela seu sonho. Minha mãe é sozinha e triste. Ela ficará feliz com seu bonito sonho.

__Mas, eu não sei contar história...

__Mas é o seu sonho! Quem poderia conta-lo melhor?Ela então, entregou-lhe uma sacola com tortilhas, pão, tomates e pimenta.

__Tome! Este é meu presente para sua viagem.Ele não pode negar o pedido e logo, à tarde chegou ao vilarejo e procurou pela mulher. Curiosos lhe seguiram até a porta da mãe de Chica, queriam saber das novidades. Logo a sala da casa estava cheia, e a mãe de Chica pediu silêncio.

__ Este rapaz teve um sonho magnífico e minha filha o mandou aqui para que me contasse. Cada palavra pronunciada é a palavra da verdade. Chica é testemunha.

Então, ele contou seu sonho e era realmente lindo e encantou a todos do vilarejo.Pela manhã, estava de partida quando um homem veio procura-lo.

__Minha mulher e filhos moram num vilarejo que fica a um dia de caminhada daqui. Se você for passar por lá, poderia contar-lhes seu sonho?

O índio consentiu e o homem decidiu segui-lo par ouvir mais uma vez o seu sonho. E a notícia corria de boca em boca... e por varias vezes se desviou de sua rota par contar seu sonho por encomenda de alguém. Mas fazer o que? Só um louco se recusaria a dar alegria aos outros.
Até que um dia, finalmente chegou em seu vilarejo. Logo na entrada, viu um bela jovem de cabelos longos e negros com a noite, era Panchita. Seu coração palpitou forte e disse:

__Panchita, trouxe-lhe um presente. E lhe entregou a delicada rosa de açúcar vermelha.

Todos estavam felizes com sua volta. E à noite, em torno da fogueira, ele contou seu sonho a todos e mostrou as sementes de ouro que havia ganhado e uma senhora idosa aproximou-se e examinou-as e disse:

__É um grão d’ixium, o milho. Mas esta felicidade não é para nós...jamais brotará em nossas terras áridas.

__Mas vamos plantá-las... junto com meu sonho.

E numa bela manhã de outono, o índio correu até os campos e pode ver seu lindo sonho...lá havia uma bela floresta: o milho amadurecera e, de tão bonito, de tão maduro, parecia de ouro. E no meio daquela floresta dourada, Panchita dançava com os cabelos soltos ao vento, cabelos longos e negros como a noite...e, de tão bela, parecia uma deusa!

terça-feira, 13 de julho de 2010

História para minha filha Tiê!!





Era uma vez , uma índia chamada Tiê ,
Que era perfumada como a flor do ipê !
Ela era uma índia sonhadora e faceira ...
Mas , também era uma guerreira !

Porém , ela não gostava de fazer nenhum tipo de guerra ...
Tiê só gostava de admirar a natureza da primavera !
Seu sonho era ser um pássaro na linda paisagem ...
Para ter a liberdade de voar em qualquer miragem !

Mas , um dia Tiê teve que participar ...
De uma batalha de amargar !
Mas , ela foi ferida ...
Pela tribo inimiga ,

Que espalhou o seu sangue pela terra ...
Naquela manhã de primavera !

E quando tudo escureceu ...
Ela , levemente , faleceu !
Porém , o deus Tupã ...
Naquela triste manhã ...

Resolveu atender a fantasia ...
Da falecida índia cheia de poesia !
Assim , ele transformou o sangue da guerreira ...
Numa ave bela , graciosa e faceira !

Deste jeito ...
Todo perfeito ...
Surgiu o tiê – sangue , um pássaro sonhador ,
Que voa pelo céu do Brasil com amor .


Luciana do Rocio Mallon